Apresentação do Livro Amor & Saudade realizada pela Sra. Graça Marques – Diretora do Museu de Arte Sacra do Funchal
Lançamento da obra poética Amor & Saudade no Museu Militar da Madeira.
Estiveram presentes neste belíssimo evento o Diretor do Museu Militar da Madeira Coronel Luís Santos, a Sra. Graça Marques Diretora do Museu de Arte Sacra do Funchal e convidados do autor Coronel José Geraldo.
É sempre muito bom sentir que a poesia mora em todos os lugares. Exatamente como o amor. Exatamente como a saudade.
Partindo de uma epígrafe de Mozart (e a música acompanha-nos ao longo de todo o livro – ora cante alentejano, ora fado, ora silêncio), o autor convida-nos a empreender uma viagem guiada por um prefácio de quem conhece a vida por dentro, de quem sabe o que fazer com as palavras – Ruy de Carvalho e Paulo Mira Coelho.
Este é um livro que fala da vida. A do autor, que se apresenta – a si e às suas memórias – numa primeira parte, a que chama Amor & Saudade onde se fala da voz do Alentejo, a mesma que se confunde com o canto do avô Guilherme; onde se fala das gentes que lhe moldaram a história, onde se fala do cheiro do fumeiro à lareira e do sentido das coisas quando fazem sentido quando já não estão:
Ó águia que vais tão alta/ Voando de polo em polo/ Leva-me ao céu onde tenho/ A mãe que me trouxe ao colo
Nessa primeira parte, como se se tratasse de um biografia ilustrada, povoada aqui e além, por fotografias e postais, percebemos o que fica depois de tudo o resto se ir embora. E o que fica é a saudade, como testemunha do tempo.
E as saudade é lugar de resguardo, um lugar que não é nem o que deixou, nem aquele para onde se foi, um lugar onde o tempo não segue o seu caminho, um lugar onde o presente toma o passado nas mãos para, com ele, imaginar o futuro.
E a saudade é o cofre onde se guardam as pessoas – a mãe, o pai, os amores perdidos e os amores achados, os amigos e os heróis (os da vida e os da Pátria).
A verdade é que a palavra “saudade” guarda, em si, uma confluência de tempos: o passado e o futuro misturam-se no agora da enunciação. Teixeira de Pascoaes explica-a como uma “esperança no passado”, uma nostalgia do presente, na medida em que ela traz o desejo (futuro, portanto) de regressar ao passado que o presente roubou.
Não sei quem espera mais, /Quem parte ou fica no cais/ Numa viagem sem fim/ Partiste, mas só metade,/ Porque a outra é saudade/ E nela vives em mim.
A memória é, assim, um dos braços da Saudade. Vivem as duas numa espécie de fronteira do tempo que traz a dor da ausência. É, porém, uma dor procurada, alimentada, que mantém acesa a esperança do reencontro, do retorno, do regresso a casa, ao paraíso perdido, “_um mal que se gosta e um bem que se padece_”, como explica Francisco Manuel de Melo.
Ora bem, a saudade faz parte da poética do amor, um xadrez de ambiguidades, de contradições, de sonhos e de esperanças. E essa ideia é muito clara na segunda parte do livro – “Fados e outros Poemas”.
“Quando despes o olhar/ vestes o xaile do fado”.
Estes dois versos que abrem um poema de amor fazem, assim, a ligação entre estes temas que percorrem todo o livro – amor – saudade – fado, aqui entendido como o lamento da guitarra a segurar a alma do fadista. Ou será o contrário?
E é nesta simples complexidade que o autor nos leva pelos caminhos de uma portugalidade que se diz amor e saudade, que se diz História e fado. Talvez por isso, alguns destes textos serviram a voz e a guitarra.
Talvez gema em cada verso o sentimento de um povo que aprendeu a ir e a lutar, que aprendeu que a pena podia ser uma arma de paz. Talvez no amor se encontre o cerne da verdadeira inspiração. Talvez o autor tivesse encontrado nas palavras (nestas palavras que nos são apresentadas, hoje) uma outra forma de fazer cumprir Portugal.
Afinal, e roubo um bocado à epígrafe de Amadeus Mozart que abre este livro: “Para fazer uma obra de arte é preciso viver um grande amor”.
Este livro – que segundo o poeta foi feito a pensar em vós – fica agora ao abrigo das vossas mãos. As fotografias que acompanham cada poema sugerem outras leituras. Poéticas, também.
Que cada leitor se sinta em casa. E que aceite o convite dos autores do prefácio:
“Lede, pois, estes poemas em voz alta, contendo a emoção, e ouvireis por certo o coração a dizer que o caminho se faz andando, porque, acreditem, a viagem da vida nunca deve ficar adiada.”
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